Durante os anos 90, confesso que eu achava meio estranho a fissura que um amigo tinha pelo finado seriado Arquivo X. Eu não entendia seu vício pela história e personagens, apesar de gostar e assistir muitos episódios. Eu nunca na verdade fui um fanatico por séries de TV. Gostei e assisti várias, mas sem grande emplogação. Até que um dia isso mudou.
Era o ano de 2005 e eu li no jornal Folha de São Paulo uma coluna assinada pelo jornalista e expert em cultura pop Lúcio Ribeiro onde ele recomendava expressamente uma nova série que iria começar a ser exibida no canal AXN. Lúcio falava de Lost e escrevia sobre o impacto que o seriado vinha causando nos EUA desde sua estréia, no último trimestre de 2004. Me lembro da forma empolgada como ele narrou o primeiro episódio, descrevendo a dramática queda do avião. Além de respeitar o trabalho do cara, o texto e a temática da série despertaram meu interesse de imediato.
Não me lembro se esta coluna foi escrita numa sexta ou num domingo, só sei que na segunda a brincadeira começou. E eu estava lá. Confiando na informação, testemunhei a estréia aqui no Brasil do melhor seriado de TV de todos os tempos, disparado. Me impressionei desde este início e eu sempre soube que se tratava de algo que seria especial, pelo menos para mim.
Naquele ano assisti a todos episódios de forma solitária, pois não conhecia ninguem que acompanhasse a saga dos sobreviventes do Oceanic 815. Ficava sozinho, pensando e me deliciando com as revelações que apereciam a cada flaskback que mostrava a vida dos personagens pré-queda do avião, além é claro dos misteriosos acontecimentos que rolavam na ilha paralelamente.
Ao término da primeira temporada, meio que precisando conversar com alguém sobre este assunto, eu falava e elogiava Lost para meus amigos sem parar. Convenci então alguns a assistirem via DVD esta temporada. E o fenômeno era instantâneo. Todos que assistiam viciavam e passavam a aguardar, assim como eu, o início da segunda temporada. Mesmo porque o final da primeira era de bárbaro e abria possibilidades impensadas até aquele momento.
Veio a segunda e uma sensação de anti-climax chegou junto. A história começou a ser abordada por outro ângulo de visão, mostrando novos personagens e quebrando aquela sequencia de revelações que era esperada. Eu descobriria mais tarde que este tipo de ritmo seria uma constante no decorrer dos anos e que de forma impressionante, isso jamais diminiu meu interesse pela história. Pelo contrário, tudo que surgia de novo era contado de forma envolvente e com o mesmo clima de mistério que permeou toda a obra.
O final da segunda temporada também foi chocante e me deixou boquiaberto. Sem saber o que pensar. A coisa boa era que agora eu tinha com quem comentar e expor teorias que nos próximos anos sempre iam caindo por terra.
Percebi que cada vez mais pessoas comentavam sobre Lost e conheci gente que assistiu de sopetão via DVD a primeira e segunda temporada, com a consequente ansiedade pela terceira parte da saga. Casado, ganhei uma companhia dentro de casa, que ficava tão impressionada quanto eu ao fim de cada episódio.
Já durante a terceira temporada, com a febre em volta do seriado a mil, foi ficando mais comum a obtenção de DVDs piratas que continham os episódios ainda não exibidos no Brasil ( a defasagem era de 1 a 2 meses), além de arquivos eletrônicos com os vídeos extraídos do site da ABC (emissora dos EUA) devidamente legendados> Também era possível assistir direto neste site, sem as legendas.
Este hábito de conhecer os episódios antes da exibição na AXN foi ficando cada vez mais comum e na quarta temporada, praticamente todos os viciados em Lost usavam deste expediente. Nunca fiz isso. Sério. Nunca. Claro que a curiosidade era grande, mas eu preferi cultivar meu ritual de parar todas as segundas-feiras (foram 5 anos sem marcar compromissos neste dia) em frente a TV e degustar aquela 1 hora, mesmo tendo que aguentar os sempre chatos e repetitivos comerciais da AXN.
Não me curvei as facilidades cada vez maiores em se obter um episódio com antecedência, resisti e permaneci com este ritual (alterado para as terças agora em 2010) até anteontem, quando assisti ao último episódio da sexta temporada, sabidamente a que encerrou o seriado.
Fiquei longe da internet desde o último domingo, dia do final nos EUA, pois não queria saber nada, absolutamente nada a respeito antes da hora. Ao contrário da maioria, era como se eu não desejasse este fim, que me deixava nostálgico antes mesmo de chegar.
E agora que chegou o final, o que dizer? Não li muita coisa a respeito de "The End", o título deste último episódio transmitido durante 2,5 horas (100 minutos fora os intervalos). Não sei se a maioria dos fãs gostou ou não. Discuti o que vi apenas com minha esposa e algumas amigas do trabalho, porém ainda sem o distanciamento mínimo que permitisse a volta do meu poder de análise mais profundo, visto que entrei num estado de catarse após o encerramento da trama, que durou intensamente por pelo menos 24 horas.
Também não sei se Lost mudou a história dos seriados para sempre e nem se Lost foi a mais revolucionária série já produzida, como muitos disseram.
O que sei, é que este seriado me marcou demais. Sei que criei uma espécie de dependência que não consigo explicar. Sinto uma sensação de perda irreparável neste universo da cultura pop. Como acompanhar outra série? Haverá alguma outra coisa que me imponha de forma arrebatadora esta deliciosa escravidão vivida nestes últimos 6 anos? Tenho certeza que não. O vazio ficará.
Agora falando sobre o final em si, eu gostei. Achei digno da qualidade desenvolvida no decorrer das temporadas e o destino dado aos personagens muito bonito. Chorei nas cenas em que eles descobriam quem realmente eram, especialmente na da Kate com a Claire mais o Charlie e na do Sawyer com a Juliet, além do Locke no hospital. A cena do diálogo do Jack com seu pai, então nem se fala. Juro que enquanto escrevo este paragrafo, estou arrepiado só de lembrar.
Me marcou também a recusa do Ben em entrar na igreja, certamente motivada pelo fato de sua filha ainda não ter recebido a revelação e estar intimamente ligada a ele naquele contexto. O gesto do Desmond em não forçar uma revelação ao Daniel Faraday, mesmo este dando indícios de que estaria preparado, deixando-o com a mãe que o matou na vida real, foi demais tamnbém. Outra, a frase do Desmond para o Hurley explicando que a Ana Lucia não iria com eles porque ainda não estava pronta, tem uma relação direta com a mensagem final.
O bacana é que a história pendeu para um desfecho de forte apelo religioso (notei que no vitral da igreja havia símbolos de diversas religiões), porém muito convincente. Acho que mesmo aqueles que não acreditam que exista alguma coisa depois da morte, no fundo torcem para que estejam errados e que no final, nós possamos nos deparar com um lugar para seguir em frente ou "move on", como bem disse o pai do Jack. A idéia de que o que pensávamos ser uma realidade paralela, significar na verdade uma espécie de purgatório, ou simplesmente uma lugar de transição para a luz me agradou bastante.
É óbvio que faltaram respostas. E eu confesso que até esperei que elas viessem durante a sexta temporada, porém acho que ficou claro que não seriam desvendados todos os mistérios na medida que a cada episódio, novos elementos iam sendo inseridos na trama. Penso que as principais questões foram abordadas, principalmente com relação ao Jacob.
Li uma entrevista dos produtores executivos onde eles disseram que o foco seria mais dar um destino para cada personagem do que a resolução de cada detalhe misterioso. Fez sentido.
Mas é claro que eu gostaria de saber pelo menos quatro coisas. Por quanto tempo mais o Hurley ficou na ilha ("foi um grande líder", disse o Ben)? Se o Desmond conseguiu sair e como foi. Se o avião que decolou da ilha ainda continha dinamite e explodiu no ar. E qual foi o destino do Richard (um dos meus personagens favoritos)?
Acho que há muito material para ser explorado e consequentemente muito dinheiro a ser ganho, caso os produtores desejem. Cabe fácil, mais de um filme longa-metragem para os cinemas, abordando e desenvolvendo lados não explicados.
Para finalizar, quero só reafirmar. Lost marcou minha vida de amante da cultura pop e ficará marcada para sempre como a melhor experiência que tive com programas de televisão em minha vida. Simplesmente insuperável.
Abaixo a última cena. Bela, belíssima. Pode chorar junto comigo...
Sandro
Sandro, foi um dos melhores comentários que li sobre Lost. Também assisti a todos os episódios e achei razoável o final. Pelo menos, o mais lógico possível.
ResponderExcluirOlá, Sandro
ResponderExcluirMuito bom mesmo seu texto, parabéns...até esclareceu algumas coisas que eu não havia entendido (como o motivo do Daniel ter ficado). Sou tb mais uma orfã de Lost, fiquei sentindo um vazio na quarta-feira....
Eu ainda estou processando o que aconteceu. Não só o último episódio, mas toda a 6a temp., trouxe mais perguntas do que era de se esperar. Concordo que o destino do Richard merecia mais esclarecimentos (viver 200 anos e depois puf!), mas não saber qto tempo o Hurley ficou na ilha não me incomodou tanto.
ResponderExcluirAdorei o fato do Jack ser um substituto "temporário" e o Hurley ficar como "permanente". O Ben ficar como assistente foi uma espécie de absolvição, coerente como a forma como ele procede na realidade paralela - ele não estraga a chance da Alex ir para faculdade para se tornar diretor.
Acho que o Daniel não foi embora não por causa da mãe, mas sim por causa da Charlote. Ela que na verdade não estava preparada.
Quanto aos outros mistérios, ainda preciso pesquisar sobre os números, mas a minha teoria é que eles tem a ver com o farol. Cada grau indicava uma pessoa, tanto que o Jack pede para o Hurley voltar para determinado grau para mostrar a casa dele.
Tenho certeza que agora sofreremos uma outra overdose de teorias já que muitas portas ficaram abertas, o que vai diminuir, mas não eliminar, a falta que o seriado fará. Poderíamos ter uma ou duas temporadas a mais e esclarecer todos os mistérios, mas o mais provável é que novos mistérios surgissem, se não não seria Lost.
Eu chorei no reencontro da Juliette com o Sawyer, meus dois personagens favoritos.
ResponderExcluirSandro,
ResponderExcluirSenti muita sinceridade no seu texto. Coisa de fã, como a gente.
Sou daquelas que começaram a seguir depois da segunda temporada, mas ´como muito entusiasmo.
Acho que o final mostrou que todos eles que estavam perdidos em suas vidas reais encontraram um caminho de luz através das fortes provações que a relação com a ilha trouxe para suas vidas.
Mais uma pergunta para a gente, além das outras comentadas: Como o Jack saiu daquele buraco onde ficava a luz?
Enfim, ficou muita coisa para ser respondida, mas eu concordo com o que a Samanta disse, isso era quase uma regra em Lost!
Parabéns pelo texto e pelo vídeo. Foi ótimo rever estes minutos finais.
Danny
Beijo
Aeh Parceiro, texto digno de um verdadeiro fã.....
ResponderExcluirEu confesso que fui mais atento as duas primeiras temporadas...depois acompanhava, sim, mas pela internet.....fiquei um tempo sem ver....e assisti de uma só vez.....como nas 5 temporada.....
Acho o seguinte....em termos de bussiness foi um sucesso....e não esperava um final diferente....uma mina de ouro dessas não pode ser deixada de lado, os pontos "mal resolvidos" foram deixados com certeza para novos trabalhos e possibilidades.....e como disse George Lucas , em sua carta de parabéns ao J.J. Abrams....."quando comecei a trilogia Star Wars, não tinha idéia para onde estava indo......"
Anselmo
Muito obrigado Danny, Bípede, Samanta, Lia e Carlos Eduardo pela visita e comentários!
ResponderExcluirO texto saiu no primeiro momento lúcido que tive depois da terça a noite.
É engraçado como os dias passam, mas a gente continua com este negócio na cabeça.
Vou ficar atento as novidades que possam aparecer sobre futuros desdobramentos para colocar aqui no blog. Minha sensação é que falaremos neste assunto no futuro.
Abraços a todos
Sandro
PS: O Anselmo não escreveu, mas a teoria dele sempre foi a de que a explicação final estaria relacionada a ETs e eu sempre disse que era viagem... (hehehe).
Olá!
ResponderExcluirEstou meio atrasada, pois consegui terminar de assistir as temporadas neste mês de férias.
Confesso que, também, nunca fui tão fanática por seriados, mas tinha uma curiosidade sobre Lost. Comecei a assistir este ano e com uma vontade enorme, devorei as cinco temporadas para poder assistir a 6ª temporada.
Gostei muito do final, porém muitas coisas ficaram no ar como vocês comentaram. Uma outra coisa me intrigou, conversando com uma amiga... A relação de Miles e Sawyer como parceiros na polícia não deveria lembrá-los do mundo paralelo em que viviam?
Sandro, adorei não só este, mas todos os outros posts relacionados a Lost, afinal esclareceu muitas coisas, já que não acompanhei a série desde o seu início.
Bjos Cau
Gostei muito desse texto também,pois é mais ou menos o que me aconteceu também durante esses seis anos.Lost é realmente uma série fantástica e me deixou mais de 24 horas com o final persistindo na cabeça.Resisti um pouco em ver o final,pois sabia que este seria o último episódio de todos,sem mais nenhum outro e que breve eu ficaria orfão de série.Mas eu não podia negar o inevitável:era o fim e se quisesse todas as respostas esclarecidas,tinha que ver o "The End".
ResponderExcluirComecei a ver a série "The Wlking Dead" e me lembrou muito LOST,motivo pela qual entrei nesse blog.