Durante muito tempo fui um leitor de carteirinha da revista Trip (ainda a leio ocasionalmente). Em meados dos anos 90, na página dedicada aos lançamentos literários, li uma pequena resenha sobre um livro chamado Alta Fidelidade. Não me lembro exatamente o que estava escrito (tentei e não consegui encontrar esta edição na minha bagunça), mas me chamou a atenção na hora e fez com que eu comprasse o livro na mesma semana.
Li e pirei. O autor inglês Nick Hornby tinha escrito um livro maravilhoso. Tinha construido um personagem principal que em muitos aspectos parecia demais comigo mesmo. Foi impossível não me identificar.
Rob Fleming é dono de uma loja de discos (qual fã de música nunca sonhou em ter uma?), viciado em música e cinema. Tem a estranha mania (deliciosa) de fazer listas de melhores músicas, discos, artistas, filmes para tudo que é tipo de situação. Também faz referências a cultura pop a todo momento, de forma quase doentia. Classifica as pessoas pelos seus gostos musicais, usa frequentemente o superlativo para definir as coisas e tem o hábito de tentar empurrar a todo custo seus gostos musicais para os amigos e namoradas. Tem amigos esquisitos, com gostos esquisitos. Também adora organizar e reorganizar sua coleção de discos (ordem alfabética, lançamemto, estilo) e faz disso uma terapia.
Além disso, a vida do personagem é recheada de "segredos" masculinos cuja imensa maioria dos homens vivencia, mas não tem coragem de expor. São dificuldades em conduzir relacionamentos mais sérios com as mulheres, paixões não correspondidas, inseguranças sobre si mesmo, traições inconfessáveis, atitudes canalhas premeditadas, términos de relação por iniciativa da outra pessoa (os chamados foras), etc.
Muitas publicações escreveram que trata-se de um livro que entrega o que se passa na cabeça de grande parte dos homens (excetuando os trogloditas de plantão) e que deveria ser escondido das mulheres.
Dentro desta composição do personagem principal, a história conta um período de sua vida em que ele está tomando um "fora" de sua atual namorada (a advogada Laura). Rob havia insinuado a ela que a relação não estava tão boa, que ele estava meio infeliz e pensando em sair e conhecer outras pessoas. Só que ele se desespera quando algum tempo depois, ela chega e termina tudo, aceitando a idéia de que talvez o relacionamento realmente não estivesse tão legal, apesar dela não ter percebido. Rob então descobre que é mesmo apaixonado por Laura (claro, quando perdemos é assim!) e juntando a isto, o fato dela ter tomado a iniciativa, dando o chute nele, fica praticamente louco. E sofre muito.
Decide então fazer a lista dos cincos maiores foras que ele tomou na vida. Laura não entra neste top five, o que para Rob é uma prova de que ela não provocou nele a mesma humilhação e sofrimento que outras já o impuseram. Ele decide procurar as garotas da lista para tentar descobrir a razão delas terem partido seu coração em diferentes fases de sua vida. Rob vai a procura de uma espécie de exorcismo sentimental.
Para complicar ainda mais, nesse meio tempo, ele descobre que Laura o trocou por outro (ela não tinha deixado explícito e ele tinha esperança de que na verdade não existisse outro) e que este cara era seu ex-vizinho do andar de cima, cujo sexo era bem barulhento e demorado, pelo menos era o que ele costumava ouvir.
Mais, só lendo.
Apenas reitero que é um livro delicioso. Literatura agradável e extremamente leve, daquelas que você devora em alguns dias (tem só 260 páginas).
Com o passar dos anos fui descobrindo que outras pessoas pensavam como eu e que esta identificação absurda não acontecia só comigo. Isso mostra como talvez Hornby tenha conseguido colocar nesta obra muito de uma geração.
Umas das pessoas que foram tomadas por esta sensação foi o ator americano John Cusack, que também pirou com o livro e fez todo o esforço possível para conseguir adaptá-lo para o cinema. No filme homônimo dirigido por Stephen Frears, Cusack além de interpretar o personagem principal, foi co-produtor e roteirista do filme.
Recomendo também o filme, que é muito bom e fiel na medida do possível a obra original. Mas claro, como sempre o livro é muito superior.
Falando ainda em adaptação, vale a pena citar a peça de teatro chamada "A Vida é Cheia de Som e Fúria", montada pela Sutil Companhia de Teatro (de Curitiba) também na década de 90. A produção foi dirigida por Felipe Hirsch e estrelada por Guilherme Weber. A peça rodou o Brasil e eu particularmente a asssiti duas vezes aqui em São Paulo (e foi muito dificil descolar o ingresso). No começo deste ano eles iriam remontá-la para comerar o aniversário do grupo, mas parece que problemas com direitos autorais não deixaram o projeto andar. Parece que existe a possibilidade de em 2010 a peça voltar as palcos. Se rolar, não percam!
Bom, paro aqui. Post longo e difícil. Difícil pela dúvida em escrever sobre o assunto ou não. Ao mesmo tempo em que eu achava que talvez o primeiro post deste blog devesse ser dedicado a este livro (tem tudo a ver), eu sabia que o assunto poderia parecer óbvio demais, já que muito já se falou sobre a obra de Hornby tanto nos grandes portais quanto em bons blogs por aí. Optei por colocar minha impressão pessoal, de um livro que apesar de não ser nenhum clássico da literatura mundial, me influenciou inclusive a um dia querer escrever sobre o que eu gosto.
Afinal, dá para ter um blog sobre cultura pop que não tenha um post sobre Alta Fidelidade? Acho que dá, mas este aqui agora tem.
Sandro
olá!!
ResponderExcluireu li o livro e vi o filme. Este foi um dos raros casos em que prefiro o filme, mil veses!! ahiahaih
obrigada pela visita!
Vocês têm aqui um optimo blog sobre o mundo das artes ! Muito boa informaçao !
ResponderExcluirBom trabalho e abraço*
Teresa Melo
ReAct Movement
Olá, Sandro, ví o filme mas nào lí o livro, e gostei muito, principalmente da trilha sonora. Tem Belle and Sebastian... nossa, vou gravar esse filme hoje! Valeu a dica do livro! abrassss
ResponderExcluirBelo Post, praticamente resumiu Livro, Cinema e Teatro.
ResponderExcluirAnselmo
Agradeço a todos pela visita.
ResponderExcluirBeecology, você que gostou da trilha do filme (realmente é muito boa) certamente vai gostar da penca de artistas que são citados no livro. Há bem mais nomes lá. Por exemplo, foi lá que eu descobri o incrível Solomon Burke e me tornei fã (tem um post só para ele aqui no blog).
Legal sua participações nos comentários. Contamos com sua opinião!
Sandro
Valeu, obrigado pelo incentivo! Andei especulando e achei o livro em um Sebo e vou comprá-lo. Esse valioso blog ficaria insuperável se vcs postassem cds para baixar, devido ao manjadíssimo fato de que a maioria dos artistas citados não tem um apelo comercial e por isso não são achados tão facilmente. Que tal a idéia? Abrassssss.
ResponderExcluirBeecology,
ResponderExcluirSe você comprar garanto que não vai se arrepender. Depos que ler, me diz sua opinião.
Quanto ao blog, a idéia original é passar nossa opinião e compartilhar nossos gostos com velhos e novos amigos como você. Não temos plano de transformar o Minerva Pop num espaço para baixar conteúdo (apesar que se você procurar em posts mais antigos vai achar mp3 rsrs) por entendermos que tem muita gente fazendo isso na rede com mais competência no assunto técnico que a gente.
Porém para ajudar vou te dar um atalho. No blog musicasobmedida.blogspot.com a amiga Quietinha disponibiliza o link que você pedir em até 7 dias. Faça o teste. Entre lá e diga que foi o Minerva Pop que indicou. Não se assuste com alguns discos bregas que pintam lá, ela realmente descola o que você pedir.
Abraços
Sandro
Olha, eu gostei bastante dessa dica, porque você realmente conseguiu me fazer ficar interessado por esse livro. Acabo de incluií-lo na minha lista, que agora consta com 13 títulos, para (tentar) ler até o final desse ano.
ResponderExcluirVou ler e em segudia ver o filme.
:D
Taí, vou dar uma olhada nesse blog. Puxa vida, com essa profusão de blogs que tomou conta da Net, é sempre válido pegar algumas dicas para se encontrarem aqueles realmente interessantes, como foi no caso dos blogs que eu tenho achado por indicação de pessoas preocupadas com o que tem de útil na rede; obrigado pela dica! Well, acho que estou mais tranquilo em tarefas que o Luis, embora o querido e espinhento Proust exige um tempo (ah, que coincidência! o tempo...) considerável de nossas vidas, e eu ainda estou no segundo livro do ciclo. Mas dá para separar um tempinho para ler algo diferente, afinal Proust é Proust, mas ele cansa a vista com seus enormes períodos!
ResponderExcluirAbrasssss
Esse livro é mesmo ótimo! Sou louca por ele, pelo filme e pela peça. E não são só os homens que se identificam com ele, as mulheres tbem. Não só eu como várias amigas pensamos isso!
ResponderExcluirOlá!!!
ResponderExcluirVim prestigiar o blog! E qual não foi a minha surpresa em ver um post dedicado à Alta Fidelidade!!!
Parabéns,
Li
Olá, Monique!
ResponderExcluirObrigado pela visita. Aproveita e indica o blog para suas amigas! Estamos de volta ao ar!
Li, obrigado também pela visita. Surpresa é o que não falta aqui pelo blog. Dá uma passeada por aí que tem mais coisa legal...
Beijos para vcs!
Sandro