Como fã de futebol, achei que valeria a pena marcar um post neste importante dia em que houve a festa de abertura da primeira Copa do Mundo em solo africano. É muito bacana ver o entusiasmo que este tipo de evento traz para uma nação. A visibilidade para o país sede também é muito importante, principalmente para países menos badalados pelo resto do mundo como a África do Sul. E este país merece. Abaixo vou contar de forma breve e a minha maneira a dura jornada deles em busca da liberdade e do orgulho que eles devem estar sentindo neste momento.
Trata-se de um país que não fugiu a regra do continente e teve um complicado processo de colonização, onde durante muito tempo três países europeus diferentes lutaram entre si pelo controle deste território. As tribos que atravessavam o caminho desta briga eram devastadas. Com a descoberta das minas de ouro e diamante, a lógica foi a de jogar os negros para o trabalho duro, enquanto os brancos europeus ficavam ricos.
Com a chegada do século 20, o crescente aumento da população negra nos centros urbanos trouxe grande preocupação para os brancos detentores do poder. Visando evitar a perda do completo domínio, foram criadas leis (Pass Laws e Land and Acts foram as mais famosas) que controlavam o direito de ir e vir dos negros e praticamente os obrigava a viver nas fazendas dos brancos ou no máximo a comprar terras na região rural.
Em 1948, as coisas pioraram. O novo governo eleito criou o que foi chamado de mundo novo. Era o famoso Apartheid (separação). Surgiram leis novas, que pioraram significativamente a situação. Os negros foram forçados a se sentar em bancos públicos separados, usar entradas de prédios diferentes e ter seus próprios banheiros públicos. No ano seguinte, um decreto chamado Mixed Marriages Act proibiu casamentos entre negros e brancos. Em 1950 lançaram outro cruel decreto, o Popular Registration Act, que exigia registros de acordo com as classificações raciais. Toda a população negra era obrigada a carregar um passe permanente e não podia entrar nas cidades. O próximo passo foi enviar um grande número de negros para áreas de segregação racial e grande pobreza (Townships). Junto com toda estas aberrações, o país ainda aplicava uma forte censura aos meios de comunicação, inibindo por completo qualquer tipo de liberdade de expressão.
Esta situação foi se tornado insustentável e a resistência interna ia crescendo. No início dos anos 70, Steve Biko, um líder popular do Movimento da Consciência Negra, fez um discurso para estudantes negros e brancos, com a intenção de aumentar o orgulho negro e divulgar o movimento. Por esta razão Biko foi espancado até a morte em uma cela de prisão. Durante esta década, outro líder, chamado Nelson Mandela que havia sido preso no final dos anos 60 e condenado por suas convicções políticas, foi se consolidando como um herói do movimento de resistência.
O Arcebispo Desmond Tutu desempenhou importante papel na tentativa de encontrar uma solução pacífica, mas a violência só fazia aumentar. Diante de tantos anos com esta politica repugnante, a comunidadde internacional foi se manisfestando de forma contrária ao regime racista do Apartheid, até que em 1986 vieram as primeiras sanções internacionais, que causaram problemas economicos ao país. A petulancia do governo era tamanha que durante a década de 80 eles tentaram até trazer a tecnologia da bomba atômica, numa negociação imunda feita junto a Israel (depois o Irã que é perigoso) e revelada recentemente em reportagem com provas pelo jornal inglês The Guardian.
Mesmo com a pressão aumentando, somente em 1990 as leis que protegiam a discriminação racial foram revogadas. Esta mudança de rumo foi simbolizada pela libertação de Nelson Mandela. Sem ressentimentos e movido pelo desejo de reparação dos direitos plenos dos negros, Mandela colaborou ativamente com o presidente F.W. Klerk numa tentativa de mudar a postura do governo sul-africano.
Em 1994, finalmente foram realizadas as eleições diretas e Nelson Mandela foi eleito. Era uma nova África do Sul, afinal chegavam ao fim 300 anos de soberania da minoria branca sobre a imensa maioria da população negra. O papel de Mandela foi o de efetivar a transição do país e a busca por uma unificação foi seu maior obletivo. Apesar de ter ficado 27 anos preso, nunca pensou em revanche ou vingança. Ele demonstrou grandeza suficiente para direcionar seu governo no sentido de que todas as pessoas do país, independente de raça, religião ou sexo fossem tratadas de forma igual. Conseguiu aprovar em 1997, uma nova constituição que garantiu de forma inédita esses direitos a todo o povo.
Escrevi um post (leia aqui) sobre o filme Invictus que retrata um breve período desta transição.
A parte do pop, eu vou deixar para o final. É que vou ilustrar este post com alegria e nada melhor do que a música tema da Copa, pop da melhor qualidade que cumpre com o papel de ficar martelando em nossas cabeças depois de ouvi-la. "Wavin' Flag", do cantor e compositor K'naan traz além da melodia deliciosamente pop, uma letra (está no vídeo) sensacional, que reflete muito do que foi escrito acima. Confira.
Sandro
Aeh Brother Sandro, excelente post....parabéns.
ResponderExcluirA história da Africa do Sul é muito bonita, feita por um povo "bravo". A Copa do Mundo serve como uma ferramenta para atrair os holofotes a essa grande nação, que em alguns casos lembra muito a nossa....mas afirno, e entendo, que a beleza desse país e sua saga é muito maior que esse torneio, e suas políticas.
Anselmo
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