Hoje temos um fato bem diferente aqui no blog. Um post com dois textos sobre o mesmo assunto. Isso mesmo. Inicialmente a tarefa estava a cargo do meu ilustre parceiro Anselmo, que iria publicá-lo ontem. Como até o final do domingo não havia nada por aqui, resolvi mandar eu mesmo um post. O engraçado é que ele resolveu escrever outro ao mesmo tempo e acabamos terminando praticamente juntos. Para não dar uma de editor e acabar prejudicando a idéia, decidi colocar as duas opiniões neste mesmo espaço. Notem que a palavra felicidade aparece nos dois textos. Devemos fazer isso mais vezes, Anselmo!
Texto 1 - por Sandro:
Texto 1 - por Sandro:
Jello Biafra é um nome que dispensa apresentações para qualquer fã de punk rock.
Certamente ele merece um post específico, onde a gente possa contar mais sobre a trajetória desta referência mundial e explorar outras facetas que vão além do fato dele ter sido líder dos Dead Kennedys, uma das mais importantes e influentes bandas punk / hardcore de todos os tempos.
Devemos escrever sobre suas qualidades como compositor de letras muito inteligentes e com alto teor político. Sobre a Alternative Tentacles, a importante gravadora que ele montou para não dependender das majors, que foi responsável por lançar muita coisa boa. Sobre seus discos só com discursos políticos (o cara chegou a ser candidato a prefeito de São Francisco). Sobre sua participação em vários projetos musicais excelentes, etc.
Mas fica para outro dia. Hoje vamos registrar que este "tiozinho" tocou em São Paulo neste final de semana. Ele veio com seu mais novo projeto chamado Jello Biafra and The Guantanamo School of Medicine e as apresentações rolaram no Hangar 110.
Nós tivemos a felicidade de assistir ao show da sexta-feira e o que vimos foi impressionante. Além de passar muita energia e entusiasmo, Biafra faz uma espécie de performance teatral em cima do palco que é um barato. Ele meio que interpreta com gestos partes das letras que está cantando e seu apelo visual aparece até na sua roupa. De entrada ele estava vestido com um avental de médico todo manchado de "sangue", depois tirou esta capa e mostrou uma camisa com a bandeira norte-americana, que depois quando foi jogada para cima mostrou enfim a camiseta com que ele se apresentou e que fazia uma alusão a democracia com uma foto de um avião de guerra. Adepto a fazer introduções sobre a temática das letras antes de tocá-las, Biafra tentou fazer isso mesclando espanhol (quase um portunhol) e inglês, numa demonstração clara que ele deseja que as pessoas saibam sobre o que ele está falando. Ver o cara se jogar de forma inesperada no meio da galera durante a execução de "California Uber Alles" e ainda continuar com o vocal não tem preço.
Quanto ao show em si foi praticamente a reprodução das músicas do (único) disco deste projeto, "The Audacity of Hype", quase na ordem do CD. Tivemos também como presente a inserção de três clássicos dos Dead Kennedys, a citada "California Uber Alles", "Let's Lynch The Lanlord" e "Holiday in Cambodia".
Esta última merece um parágrafo especial. Era o primeiro som do bis, a galera estava alucinada, quando antes da metade da música acontece o inusitado. Um apagão toma conta do Hangar 110. Então o que era para ser o anti-climax completo torna-se um momento histórico. Ouvindo só a bateria, o público continuou a música e junto com o Jello Biafra, mesmo sem o microfone, levou o som até o final. Depois disso não houve mais show e ficamos sem ao menos mais uma ou duas músicas (nossa aposta é que ainda rolaria "Police Truck"). Soubemos depois que o apagão foi em todo o bairro, o que melou de vez qualquer chance de retorno.
De qualquer forma, foi uma honra ter presenciado a apresentação desta lenda viva em cima do palco. Vibrante, impactante e emocionante. Um show que certamente ficará marcado para todos que estavam presentes.
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Texto 2 - por Anselmo:
Nessa última sexta-feira, dia 05 de novembro, o Minerva Pop teve o privilégio de testemunhar o show do último trabalho do eterno “frontman” do Dead Kennedys, Jello Biafra and the Guantanamo School of Medicine. Nascido Eric Reed Boucher (17 de junho de 1958), a importância de Biafra para o estilo punk e hardcore é histórico, são 30 anos de carreira com os DK, projetos musicais como o Lard, e o mais recente JBGSM, além da criação e administração do selo Alternative Tentacles.
A origem dessa banda é curiosa, pois em 2008 Jello chamou um grupo de músicos conhecidos para se apresentarem na festa de seu aniversário de 50 anos, daí surgiu a Jello Biafra and the Guantanamo School of Medicine, a banda gravou o primeiro álbum em 2009 chamado “Audacity of Hype”, segue em turnê desde seu lançamento. (na gravação o baixo é por conta de Billy Gould do Faith No More).
O show foi no Hangar 110, uma das melhores casas de shows de bandas underground no Brasil, e contou com a abertura do Ratos de Porão. Infelizmente, devido a problemas de logística, perdemos boa parte do show do Ratos, mas conseguimos “curtir” Aids, Pop, Repressão e Beber até Morrer, Asas da Vingança, Crucificados pelo Sistema.
Pouco antes do show de Jello Biafra, compramos algumas cervejas, e aguardamos o início do show principal da noite, o qual começou com a abertura de cortinas revelando um Jello Biafra com uniforme de médico e mãos sujas de sangue, e acompanhado dos primeiros acordes de "The Terror of Tinytown".
A seqüência das músicas foi praticamente a mesma que o disco de estréia, com destaque para as inserções de "California Über Alles" e "Let's Lynch the Landlord", com certeza pontos altos do show. Destaque também para "Clean As A Thistle" e “New Feudalism”, minhas preferidas do novo disco.
Porém o momento mais inusitado o destino reservou para o final. Durante o “bis” a banda toca “Holiday in Cambodia” e, logo nos minutos iniciais falta energia elétrica no Hangar, o que seria um desastre, mas que graças ao público que , acompanhados pelo som da batera, cantou a música até o final. O que foi emocionante.
Pra quem perdeu, lamento.
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Abaixo vídeos que ilustram o que escrevemos acima. As duas primeiras músicas, "The Terror of Tinytown" e "Clean as a Thristle", a clássica "California Uber Alles" e "Holiday in Cambodia".
Sandro e Anselmo
Os problemas de logística apontados pelo Anselmo, na verdade resume-se ao fato de eu que fiz a compra pela internet ter impresso os ingressos errados e ter visto isso só lá na porta. Só a aventura de descolar uma lan house no Bom Retiro para imprimir os corretos, já dava um post...
ResponderExcluirSandro
Foi um momento histórico!!! O "tiozinho" mandou bem.
ResponderExcluirO audio que eu gravei de Holiday in Cambodia ficou engraçado.....
OBS: O pessimista Anselmo tinha razão
Nem me fale...alegria na sexta.....inacreditavel no domingo.
ResponderExcluirAnselmo
Achei mais um momento fantástico na história da cena paulista de shows ligados a lendas do punk hardcore – como ir ao show do Sin Dios ou Fugazi, uma noite para registrar na memória, e como o som não pode parar é chegada à hora de outra lenda aportar em nossas terras, Youth Of Today despertará toda energia e empolgação que com certeza marcará essa passagem significativa a cena paulista.
ResponderExcluirJupiter Maça
Meus camaradas, lindo post como sempre! Aqui no Rio o show foi caótico, lindo, emocionante! As dores no corpor até hoje me lembram do show! Escrevi sobre o show daqui no indie.punk.pop
ResponderExcluirabração e nos vemos em breve (infelizmente não vou mais ao Planeta Terra, mas não faltarão oportunidades)!