Em tempos da chegada do filme "Colin" (leia aqui) aos cinemas brasileiros e numa sexta feira 13, quero escrever sobre o Zé do Caixão. Muita coisa se comenta a respeito deste mítico personagem e alguns chegam até mesmo a confundir o criador José Mojica Marins com a criatura.
Na minha opinião, Mojica é simplesmente genial. Figura de suma importância na história do cinema brasileiro, com seu jeito todo peculiar de fazer cinema. Um cara de origem humilde que mesmo sem conhecimento teórico, realizou filmes tidos como referência mundial para o chamado terror "B". Menosprezado por parte do grande público, é respeitadíssimo no meio cinematográfico nacional e internacional.
Mas irei tratar sobre a história deste grande cineasta (ou seria um louco?) em outra ocasião. Sua biografia intitulada "Maldito" escrita pelo André Barcisnki e pelo Ivan Finotti será filmada e em breve poderemos ver nas telas a saga deste grande homem. São mais de 30 filmes e muita coisa para contar.
Hoje eu quero falar sobre o último filme da trilogia com o personagem Zé do Caixão, que saiu este ano em DVD. Chama-se "Encarnação do Demônio".
Esta trilogia foi iniciada em 1964 com o filme "A meia-noite levarei sua alma", onde o coveiro de uma pequena cidade do interior, conhecido como Zé do Caixão é ao mesmo tempo temido e odiado pelos moradores do local. Ele é obsecado em gerar um filho perfeito, porém descobre que sua mulher não pode engravidar. Revoltado, entende que Teresinha, a mulher de seu amigo, deveria ser a geradora da criança e decide violentá-la para conseguir o que quer. Ele só não contava com o fato de que, desgostosa e desesperada com a possibilidade de ter engravidado, a mulher decide se suicidar, impossibilitando o plano de Zé. O personagem é extremamente cruel e sádico e passa o filme todo fazendo maldades com os demais personagens.
Em 1967 foi lançada a segunda parte da trilogia, chamada "Esta noite encarnarei teu cadáver". Desta vez Zé do Caixão está ainda mais enlouquecido e continua sua busca pela mulher ideal para gerar seu filho perfeito. Pare ele, a mulher não pode ter medo de nada, pois ao sentir medo, mostra que não é digna. Então os testes para encontrá-la são bem pesados (se é que você me entende).
Mojica sempre teve em mente que a saga do personagem deveria ser contada numa trilogia, porém os anos foram passando, o cineasta sofrendo cada vez mais com a censura do regime militar até que veio um período de ostracismo, onde Mojica era visto apenas como uma figura folclórica que não era levada muito a sério. Sem oportunidades para filmar, o sonho de finalizar a trilogia ia ficando cada vez mais distante.
A maré começou a mudar nos anos 90, quando seus filmes foram descobertos pelo público norte-americano aficcionado por filmes de terror de baixo orçamento. No meio destes novos fãs muita gente importante manisfestou sua admiração por seu trabalho, como Steven Spilberg, para citar um bem famoso. Nesta época, Mojica (conhecido lá como Coffin Joe) participou ativamente de festivais e convenções nos EUA, ganhando certa notoriedade. Isso fez com que as muitas pessoas aqui do Brasil se lembrassem da importância de sua obra e regatassem um pouco sua moral, lhe dando o devido respeito.
Mesmo assim, Mojica só conseguiu por em prática seu plano de terminar a citada trilogia em 2007. Mas o importante é que conseguiu.
Em 2008 foi lançado "A Encarnação do Demônio". No filme, depois de 40 anos preso (tempo real entre as filmagens), Zé do Caixão é solto. Com um histórico de muitas mortes na cadeia durante todos estes anos de prisão, ele continua com a mesma maldade de sempre e ainda planeja a geração do tão sonhado filho. Seu fiel escudeiro Bruno, já pré-selecionou uma equipe de quatro servos que irão ajudá-lo na tarefa do recrutamento das candidatas. O local para os "testes" também já está preparado e se parece bastante com um castelo de horrores.
Devido aos recursos disponíveis (os filmes anteriores eram amadorismo e improviso puros), esta terceira parte supera e muito as demais no aspecto visual. O diretor soube usar dos avanços da modernidade para rechear o filme de cenas realmente impactantes e fortes. Só para citar um exemplo, numa cena em que uma das atrizes tinha que ser costurada dentro de um porco, a garota surtou e causou um desconforto em toda a equipe de filmagem , fazendo com que parte abandonasse o set meio chocada com a situação. Depois acabou rolando normal.
O que eu particularmente acho que ficou um pouco a desejar foi a montagem. A cargo do Paulo Sacramento (também produtor do filme) ela é meio confusa e com um início muito lento (depois pega!). Minha opinião é que dava para ter conseguido um resultado melhor, até pela competência dos profissionais envolvidos.
Formei esta opinião quando assisti ao filme no cinema. Depois pude compreender melhor a razão quando comprei o DVD (devidamente autogafado pelo mestre!!!) e assisti aos extras. Lá ficamos sabendo que o que prejudicou demais as filmagens foi o fato do ator Jece Valadão, que interpreta o personagem antagonista no enredo, ter morrido durante as filmagens, tendo gravado somente 1/3 de suas cenas. Como não dava para começar tudo de novo e muito menos cancelar o projeto, a adaptação a esta nova realidade mexeu com os caminhos das filmagens e impossibilitou um resultado final perfeito. Esta situação ameniza bastante a crítica, mas independente disso, eles não poderiam ter cortado a cena do velório das velhas cegas!(rsrs).
Uma coisa muito bacana é o desfecho. Gostei muito foi do final, emblemático para a trama.
Enfim, considero um filme muito bom, porém não é o tipo de cinema recomendado a todos os gostos. Se a pessoa não curtir filmes de terror, provavelmente não vai entender e achar tudo muito gratuito. Mesmo assim, para quem não tiver muito problema com cenas de violência extrema, pode ser interessante conhecer um pouco da obra deste fabuloso realizador.
Para finalizar, antes dos trailers (o oficial do Brasil e um para a distribuição internacional, mais longo), deixo algumas opiniões a respeito de José Mojica Marins.
"O maior homem de cinema já surgido no hemisfétrio sul" - Carlos Reichenbach
"De boa fé, troco 20 anos de cinema paulista pelos 20 segundos em que Zé do Caixão, fugindo na floresta de papelão, abre os braços, a capa e grita 'a quem pertence a Terra? a Deus? ao Demônio? Ou aos espríritos desencarnados?' '' - Rogério Sganzerla.
"Um débil mental...Se não fugisse á minha alçada, seria o caso de sugerir sua prisão." - Censor da polícia federal na época da ditadura.
Sandro
Na minha opinião, Mojica é simplesmente genial. Figura de suma importância na história do cinema brasileiro, com seu jeito todo peculiar de fazer cinema. Um cara de origem humilde que mesmo sem conhecimento teórico, realizou filmes tidos como referência mundial para o chamado terror "B". Menosprezado por parte do grande público, é respeitadíssimo no meio cinematográfico nacional e internacional.
Mas irei tratar sobre a história deste grande cineasta (ou seria um louco?) em outra ocasião. Sua biografia intitulada "Maldito" escrita pelo André Barcisnki e pelo Ivan Finotti será filmada e em breve poderemos ver nas telas a saga deste grande homem. São mais de 30 filmes e muita coisa para contar.
Hoje eu quero falar sobre o último filme da trilogia com o personagem Zé do Caixão, que saiu este ano em DVD. Chama-se "Encarnação do Demônio".
Esta trilogia foi iniciada em 1964 com o filme "A meia-noite levarei sua alma", onde o coveiro de uma pequena cidade do interior, conhecido como Zé do Caixão é ao mesmo tempo temido e odiado pelos moradores do local. Ele é obsecado em gerar um filho perfeito, porém descobre que sua mulher não pode engravidar. Revoltado, entende que Teresinha, a mulher de seu amigo, deveria ser a geradora da criança e decide violentá-la para conseguir o que quer. Ele só não contava com o fato de que, desgostosa e desesperada com a possibilidade de ter engravidado, a mulher decide se suicidar, impossibilitando o plano de Zé. O personagem é extremamente cruel e sádico e passa o filme todo fazendo maldades com os demais personagens.
Em 1967 foi lançada a segunda parte da trilogia, chamada "Esta noite encarnarei teu cadáver". Desta vez Zé do Caixão está ainda mais enlouquecido e continua sua busca pela mulher ideal para gerar seu filho perfeito. Pare ele, a mulher não pode ter medo de nada, pois ao sentir medo, mostra que não é digna. Então os testes para encontrá-la são bem pesados (se é que você me entende).
Mojica sempre teve em mente que a saga do personagem deveria ser contada numa trilogia, porém os anos foram passando, o cineasta sofrendo cada vez mais com a censura do regime militar até que veio um período de ostracismo, onde Mojica era visto apenas como uma figura folclórica que não era levada muito a sério. Sem oportunidades para filmar, o sonho de finalizar a trilogia ia ficando cada vez mais distante.
A maré começou a mudar nos anos 90, quando seus filmes foram descobertos pelo público norte-americano aficcionado por filmes de terror de baixo orçamento. No meio destes novos fãs muita gente importante manisfestou sua admiração por seu trabalho, como Steven Spilberg, para citar um bem famoso. Nesta época, Mojica (conhecido lá como Coffin Joe) participou ativamente de festivais e convenções nos EUA, ganhando certa notoriedade. Isso fez com que as muitas pessoas aqui do Brasil se lembrassem da importância de sua obra e regatassem um pouco sua moral, lhe dando o devido respeito.
Mesmo assim, Mojica só conseguiu por em prática seu plano de terminar a citada trilogia em 2007. Mas o importante é que conseguiu.
Em 2008 foi lançado "A Encarnação do Demônio". No filme, depois de 40 anos preso (tempo real entre as filmagens), Zé do Caixão é solto. Com um histórico de muitas mortes na cadeia durante todos estes anos de prisão, ele continua com a mesma maldade de sempre e ainda planeja a geração do tão sonhado filho. Seu fiel escudeiro Bruno, já pré-selecionou uma equipe de quatro servos que irão ajudá-lo na tarefa do recrutamento das candidatas. O local para os "testes" também já está preparado e se parece bastante com um castelo de horrores.
Devido aos recursos disponíveis (os filmes anteriores eram amadorismo e improviso puros), esta terceira parte supera e muito as demais no aspecto visual. O diretor soube usar dos avanços da modernidade para rechear o filme de cenas realmente impactantes e fortes. Só para citar um exemplo, numa cena em que uma das atrizes tinha que ser costurada dentro de um porco, a garota surtou e causou um desconforto em toda a equipe de filmagem , fazendo com que parte abandonasse o set meio chocada com a situação. Depois acabou rolando normal.
O que eu particularmente acho que ficou um pouco a desejar foi a montagem. A cargo do Paulo Sacramento (também produtor do filme) ela é meio confusa e com um início muito lento (depois pega!). Minha opinião é que dava para ter conseguido um resultado melhor, até pela competência dos profissionais envolvidos.
Formei esta opinião quando assisti ao filme no cinema. Depois pude compreender melhor a razão quando comprei o DVD (devidamente autogafado pelo mestre!!!) e assisti aos extras. Lá ficamos sabendo que o que prejudicou demais as filmagens foi o fato do ator Jece Valadão, que interpreta o personagem antagonista no enredo, ter morrido durante as filmagens, tendo gravado somente 1/3 de suas cenas. Como não dava para começar tudo de novo e muito menos cancelar o projeto, a adaptação a esta nova realidade mexeu com os caminhos das filmagens e impossibilitou um resultado final perfeito. Esta situação ameniza bastante a crítica, mas independente disso, eles não poderiam ter cortado a cena do velório das velhas cegas!(rsrs).
Uma coisa muito bacana é o desfecho. Gostei muito foi do final, emblemático para a trama.
Enfim, considero um filme muito bom, porém não é o tipo de cinema recomendado a todos os gostos. Se a pessoa não curtir filmes de terror, provavelmente não vai entender e achar tudo muito gratuito. Mesmo assim, para quem não tiver muito problema com cenas de violência extrema, pode ser interessante conhecer um pouco da obra deste fabuloso realizador.
Para finalizar, antes dos trailers (o oficial do Brasil e um para a distribuição internacional, mais longo), deixo algumas opiniões a respeito de José Mojica Marins.
"O maior homem de cinema já surgido no hemisfétrio sul" - Carlos Reichenbach
"De boa fé, troco 20 anos de cinema paulista pelos 20 segundos em que Zé do Caixão, fugindo na floresta de papelão, abre os braços, a capa e grita 'a quem pertence a Terra? a Deus? ao Demônio? Ou aos espríritos desencarnados?' '' - Rogério Sganzerla.
"Um débil mental...Se não fugisse á minha alçada, seria o caso de sugerir sua prisão." - Censor da polícia federal na época da ditadura.
Sandro
meu o Seu Zé
ResponderExcluiré um batalhador nato ( como fã que sou )
só digo o seguinte
t an ahora do povo da valor ao que é da gente
e o filme encarnação eu assisti umas 5 vezes ja
abraxxx rapa
xfabsx
Oi Sandro, acabei de ler o seu post e o comment do Fabiano. Eu não sabia que vcs se conhecem hahahaa. A internet tá ficando pequena, hein?
ResponderExcluirQuanto ao filme, eu vi também. Fico muito orgulhosa por tudo o que Mojica conseguiu. Não é fácil fazer terror no Brasil. É tão difícil que ninguém faz. E ele é realmente um mestre e mereceu ter a trilogia fechada. Eu, por não saber dos bastidores, gostei bastante de tudo - dos efeitos à montagem, sem nem perceber q o policial saiu no meio do filme. Vida longa ao mestre. beijos!
Assisti há pouco tempo os dois primeiros filmes e achei sensacionais. Agora preciso assistir o fechamento da trilogia, apesar de que o personagem Zé do Caixão aparece em outros filmes de Mojica.
ResponderExcluirAbraço
Mojica é demais....apesar de toda atrocidade de seu personagem, eu o considero uma pessoa simples....e aí está a difereça!
ResponderExcluirAnselmo