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terça-feira, 3 de novembro de 2009

CAMA DE GATO - VALE A PENA ASSISTIR


Nos últimos dias a grande mídia deu bastante espaço para o caso da estudante de uma universidade daqui de São Paulo que foi humilhada pelos demais alunos em razão de estar vestida de forma "inapropriada" (vestido muito curto). Sem entrar no mérito da garota estar certa ou não, me surpreendeu a reação desproporcional que a atitude dela gerou na galera. Justamente num ambiente de universitários, onde as cabeças deveriam ser mais abertas, a indignação exagerada quase fez com que a menina apanhasse. Vendo o vídeo, entendo que faltou só alguém dar o primeiro soco, para desencadear uma provável tragédia. Hoje li que alguns alunos fizeram protestos contra a menina.

Este fato me fez lembrar um excelente filme brasileiro chamado “Cama de Gato”.

Filmado em 2000, no formato de vídeo digital e com um orçamento de apenas R$ 13 mil, "Cama de Gato" foi lançado nos cinemas em 2004. O filme concebido por Alexandre Stockler (responsável pelo argumento, roteiro, direção e produção) é um verdadeiro tapa na cara.

Conta a história de três jovens de classe média alta (vividos por Caio Blat, Rodrigo Bolzan e Calman Baladez) que estão entrando na faculdade e passam por uma fase onde tudo é festa. Com a desculpa da diversão, acham que qualquer coisa vale.

Em determinado momento, incentivado pelos amigos, um deles chama uma colega para sua casa (ela está afim de transar com ele) já com o pensamento de que role um sexo grupal (só de barato). A garota não sabe de nada e quando já está no quarto, sem roupa, os outros dois caras entram em cena para “participar” da brincadeira. A menina diz não e prepara-se para ir embora, quando eles começam a forçar a barra. A coisa vai evoluindo até chegar ao ponto em que vira um estupro. Numa cena pesadíssima e explícita (6 minutos no cinema e quase 17 minutos no DVD), Stockler nos mostra a falta de limites que a “diversão” inconseqüente leva.

Mas a coisa não para por aí. Tentando lutar durante a ação dos jovens, a garota toma uma pancada na cabeça o que faz com que ela apague na hora. Verificando a respiração (ou a falta dela), os três chegam a conclusão de que a menina está morta. O desespero dos três aumenta quando a mãe do morador da casa chega do trabalho. O filho desnorteado tenta em vão manter a mulher no andar de baixo. Não consegue e quando a mãe está subindo as escadas, depara-se com um dos jovens descendo e no susto cai de costas, bate a cabeça num degrau e cai morta.

Pronto. O inferno está montado. Diante desta inusitada situação, os três começam a discutir que atitude tomar. A trama vira uma espécie de humor negro, porém com uma pesada crítica social, pois durante a discussão sobre o que fazer, percebe-se que a "ficha não cai" e a noção de ética e moral dos personagens passa longe do que, pelo menos em tese, a sociedade espera.

Na sequência, eles optam em queimar o corpo da menina em algum lixão distante. A partir daí segue-se uma série de acontecimentos que vão complicando cada vez mais o caso. O interessante é que durante todas as cenas os personagens exalam preconceito e falta de conexão com a realidade. Sobre o desenrolar do filme eu paro por aqui, para que vocês vejam por si mesmos.

Outro ponto importante, é que o diretor saiu na noite paulistana e gravou uma série de entrevistas com jovens em diferentes situações e lugares. Sem que os mesmos tivessem visto o filme, apenas tendo como informação a história, as respostas dadas por esta galera expõem idéias nebulosas e que também vão contra o preceito de ética da sociedade. Estas entrevistas fazem parte do início e final do filme.

Nos extras do DVD, Stockler coloca uma idéia que achei nteressante. Todo este nosso horror ao que os outros fazem pode ser questionado numa simples reflexão. O que você faria se sua filha fosse estuprada? Que fim você desejaria ao agressor? Agora, se um filho seu estuprasse uma menina, qual seria sua reação? A indignação e revolta seria na mesma proporção?

Enfim, o que posso dizer é que trata-se de um filme absolutamente inovador, que rompe com aquela estética de violência que estamos acostumados a encontar nos cinemas, sempre com as favelas / periferias como pano de fundo. Aqui é a juvenude de classe média alta que está em discussão, uma juventude que apesar de ter tudo na mão muitas vezes não consegue transformar informação em conhecimento.

Quando lançado, "Cama de Gato" dividiu a crítica, que ora o acusava de violência gratuita, ora o achava genial. Não ficou muito tempo em cartaz e a censura de 18 anos atrapalhou bastante a bilheteria, mas na época o site do filme bateu mais de 40 milhões de acessos.

Exibido internacionalmente, ganhou alguns prêmios legais:
Melhor longa-metragem de estréia no festival de Montreal em 2002
Grande prêmio do juri no festival de Seoul em 2003.
Melhor ator para Caio Blat no festival de cinema latino de Nova Yorque em 2003.

Não sei ao certo se é facil achá-lo em locadoras, sei que em algumas lojas virtuais pode-se encontrá-lo num preço médio de R$ 19,00. Eu recomendo o investimento, pois é uma obra que no mínimo não nos deixa passar batidos.

Com informação extra, recentemente o Alexandre Stockler disponibilizou o documentário com as entrevistas gravadas durante a filmagem na íntegra lá no You Tube, dividido em 8 partes. Quem tiver o interesse é só pesquisar como "camadegato.doc".

É isso.

Sandro



5 comentários:

  1. Obrigado pela visita ao meu blog!

    Bom sítio este.

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  2. Oi Sandro, também estou sempre por aqui. Adorei a dica desse filme, fiquei chocada! Quando é brasileiro só divulgam filme de trafico. Será q acham q a gente não entende? Espero achar pra ver. bjos

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  3. Mas que filme interessante esse "Cama de Gato". Ainda não tinha ouvido falar dele antes. Vou correr atrás dele! Em relação à moça da UNIBAN: fiquei chocada com a notícia. Quer dizer, então, que a pessoa não pode mais se vestir do jeito que quer?? Os estudantes dali foram totalmente hipócritas!

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  4. Fala aí Brother...filme muito forte....preciso me preparar psicologicamente pra ver....hehehe

    Anselmo

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  5. Outra boa dica de vcs!!
    Não conhecia e fiquei muito interessada.

    Danny

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