Desde criança, o período de Natal e Ano Novo é o que eu mais gosto. O sentimento de paz e felicidade que percebo nas pessoas é inspirador. Talvez porque venha acompanhado de uma pausa de final de ano, 13º. Salário, verão, férias, sei lá... mas a atmosfera é bem legal. (Posso afirmar que é o contrário do sentimento que tenho no feriado de Carnaval, por exemplo). Claro que tem pessoas, que por motivos religiosos, não comemoram, respeito.
Para os religiosos protestantes e historiadores de plantão, gostaria de deixar bem claro que conhecemos a origem das festas de final de dezembro. A Saturnália, por exemplo, que durante os cinco dias a partir de 17 de dezembro homenageava Saturno, antiga divindade da agricultura. Casas eram decoradas com velas e folhagens, os amigos trocavam presentes, crianças ganhavam bonequinhos, escravos e senhores trocavam de papel.
Logo após vinha o solstício de inverno, a Brumália, e após a sua introdução no ano 286 d.C., a Festa do Sol Indônito, que era um dia criado para que as pessoas tivessem bons pensamentos sobre o Imperador e estimular o patriotismo. E por fim, na seqüência, as Calendas de Janeiro, que celebravam a entrada de um novo ano.
A partir do século IV mudanças políticas abriram caminho para que o cristianismo se tornasse a princípio uma religião tolerada, e depois considerado crença oficial do Império Romano. Com isso São Máximo de Turim combateu a argumentação contra do teólogo alexandrino Orígenes que não aprovava"as festas". São Máximo, de forma inteligente, defendeu que ao invés de celebrarmos reis terrenos, devemos celebrar com muita felicidade o aniversário de nosso rei eterno, Jesus Cristo.
Isso levou a comemoração aberta do Natal e à escolha do dia 25 de dezembro para realizá-la. É sabido por estudos históricos que Jesus nasceu entre 10 e 24 de agosto, mas eu acho que isso é menos relevante, o importante é o sentimento de fé de cada um, esse negócio de ser contra a data por pontos de vista religiosos, não está com nada. Da mesma forma, não acho legal criticar quem se resguarda no direito de não comemorar nada, cada um que decida o que achar melhor.
Isto posto, gostaria de comentar com vocês sobre um livro bem interessante que aborda um dos personagens mais esperados nesse período de festas. Infelizmente, não estou falando de Jesus Cristo, e sim do mestre de cerimônias, presenteador, garoto propaganda, vendedor de produtos, o nosso querido Papai Noel.
A obra, Papai Noel – Uma Biografia (2007), escrito por Gerry Bowler, foi lançado no Brasil pela Editora Planeta (parte do texto acima foi possível graças a esse livro).
O autor Gerry Bowler é doutor em história pelo King´s College de Londres e leciona na Universidade de Manitoba.
Sendo o livro sobre um personagem fictício, o autor vai demonstrando em cada capítulo como a história da própria civilização vai moldando essa criatura fantástica até a sua imagem final definida pelo sistema capitalista e consumista dos Estados Unidos da América (sim caros amigos, apesar da origem no velho mundo, o bom velhinho é Yankee)!
Somos apresentados a São Nicolau (nasceu em Patara, na Lícia, atual Turquia, santo padroeiro da Rússia que viveu no tempo dos imperadores romanos Diocleciano, Maximiano e Constantino), que no ano de 1100 era o santo mais poderoso do calendário da Igreja, rivalizando apenas com a Virgem Maria. Apesar de o autor ressaltar que sua origem histórica é incerta, após sua morte em 06 de dezembro de 343, várias histórias de milagres já haviam se espalhado pelo povo, sendo que duas são fundamentais na origem do Papai Noel.
Numa delas,quando jovem, evita que um pai entregue as filhas a prostituição e escravidão, atirando sacos de ouro pela janela do pai, durante três noites, tornando-o protetor das donzelas e casamentos profílicos.
Em uma segunda história, já velho, ressuscita três jovens que haviam sido mortos por um perverso estalajadeiro, que pusera seus restos esquartejados dentro de um barril, daí foi considerado protetor dos estudantes e crianças.
Com a sua popularidade na Holanda, no século XVII a veneração de São Nicolau atravessou o Atlântico, até Nova Amsterdã, a colônia que após invasão inglesa se tornou Nova York. Foi retratado em 1809 por um jovem escritor de Nova York chamado Washington Irving, que descreveu São Nicolau voando sobre a cidade num carroção e descendo por chaminés para entregar presentes. De acordo com o autor, que esse foi o momento que São Nicolau trocou a nacionalidade europeia para se tornar americano. (Será que os europeus aceitam isso?)
O autor comenta a primeira descrição do papai Noel como ficou mundialmente conhecido. Isso aconteceu na Harper´s no dia 26 de dezembro de 1857.
Apresenta-nos Thomas Nast (Landau, Alemanha, 27 de setembro de 1840 – Guayaquil, Equador, 07 de setembro de 1902), o responsável pela criação da imagem do Papai Noel conhecida até os dias de hoje (roupas vermelhas com detalhes em branco e cinto preto).
Descreve como os comerciantes tiveram a “sacada” dos primeiros cartões de natal e de usar o Papai Noel como “garoto propaganda”. Relata o primeiro poema de Natal escrito por Clement Clarke Moore (1779-1863) conhecido como "Twas the Night Before Christmas", e também um dos mais declamados (será isso que inspirou Tim Burton para "The Nightmare Before Christmas?)
Mostra em detalhes porque a Coca-Cola foi à empresa que melhor transformou o presenteador num consumidor de produtos com as famosas pinturas do Papai Noel feito por Haddon Sundblom nas campanhas natalinas da década de 30.
A partir daí foram anúncios de armas, bebidas, cigarros, seguros, revistas masculinas como a capa da revista Playboy brasileira de 2000. Até uma mistura de crenças em uma propaganda chamada “Feliz Natalhanukwanzakah” pela Virgin Mobile, o que não foi muito aceita.
Adentramos até o templo do consumismo, os shopping centers, e seus Papais Noéis, no altar como o “santo dos vendedores e das crianças em busca de uma novidade tecnológica como presente”. Porém, a partir desse ponto o autor vai cada vez “entrando de cabeça” na cultura americana, fazendo “paralelo” com a história dos EUA e do próprio Papai Noel, nas guerras, música, cinema, etc., o que torna o livro um pouco cansativo.
O livro traz a idéia do autor sobre o futuro do Papai Noel, onde os pais são os que vão decidir sobre a continuidade da tradição ou não. Eu particularmente acho que isso deva ocorrer como uma evolução natural da sociedade, com certeza a tradição não vai acabar, pode adaptar-se as novas gerações, mas não termina.
Amigos, depois de tanta influência americana, não poderia terminar esse post sem um "marco brasileiro" sobre o Papai Noel, o vídeo "Natal da Turma da Monica" que passava cerca de 4 vezes no mesmo dia pra criançada na década de 70.
Vale a pena lembrar também do CD "Um Natal Bem Brasileiro" lançado pela "biscoito fino" em 2008, com composições de Carlos Galhardo e Adoniran Barbosa.
Vou continuar a “curtir” o Natal com Papai Noel, rena, trenó, ceia, panettone, peru, árvore-de-natal, presépio, enfeites, presentes, cerveja, vinho, família, e não esquecer jamais do aniversariante, que nascendo em 25 de dezembro ou não, está todos os dias comigo ouvindo Rock´n´Roll e iluminado nossos caminhos durante o ano todo
Seguem abaixo, alguns vídeos sobre os temas acima.
Feliz Natal!
Anselmo
Para os religiosos protestantes e historiadores de plantão, gostaria de deixar bem claro que conhecemos a origem das festas de final de dezembro. A Saturnália, por exemplo, que durante os cinco dias a partir de 17 de dezembro homenageava Saturno, antiga divindade da agricultura. Casas eram decoradas com velas e folhagens, os amigos trocavam presentes, crianças ganhavam bonequinhos, escravos e senhores trocavam de papel.
Logo após vinha o solstício de inverno, a Brumália, e após a sua introdução no ano 286 d.C., a Festa do Sol Indônito, que era um dia criado para que as pessoas tivessem bons pensamentos sobre o Imperador e estimular o patriotismo. E por fim, na seqüência, as Calendas de Janeiro, que celebravam a entrada de um novo ano.
A partir do século IV mudanças políticas abriram caminho para que o cristianismo se tornasse a princípio uma religião tolerada, e depois considerado crença oficial do Império Romano. Com isso São Máximo de Turim combateu a argumentação contra do teólogo alexandrino Orígenes que não aprovava"as festas". São Máximo, de forma inteligente, defendeu que ao invés de celebrarmos reis terrenos, devemos celebrar com muita felicidade o aniversário de nosso rei eterno, Jesus Cristo.
Isso levou a comemoração aberta do Natal e à escolha do dia 25 de dezembro para realizá-la. É sabido por estudos históricos que Jesus nasceu entre 10 e 24 de agosto, mas eu acho que isso é menos relevante, o importante é o sentimento de fé de cada um, esse negócio de ser contra a data por pontos de vista religiosos, não está com nada. Da mesma forma, não acho legal criticar quem se resguarda no direito de não comemorar nada, cada um que decida o que achar melhor.
Isto posto, gostaria de comentar com vocês sobre um livro bem interessante que aborda um dos personagens mais esperados nesse período de festas. Infelizmente, não estou falando de Jesus Cristo, e sim do mestre de cerimônias, presenteador, garoto propaganda, vendedor de produtos, o nosso querido Papai Noel.
A obra, Papai Noel – Uma Biografia (2007), escrito por Gerry Bowler, foi lançado no Brasil pela Editora Planeta (parte do texto acima foi possível graças a esse livro).
O autor Gerry Bowler é doutor em história pelo King´s College de Londres e leciona na Universidade de Manitoba.
Sendo o livro sobre um personagem fictício, o autor vai demonstrando em cada capítulo como a história da própria civilização vai moldando essa criatura fantástica até a sua imagem final definida pelo sistema capitalista e consumista dos Estados Unidos da América (sim caros amigos, apesar da origem no velho mundo, o bom velhinho é Yankee)!
Somos apresentados a São Nicolau (nasceu em Patara, na Lícia, atual Turquia, santo padroeiro da Rússia que viveu no tempo dos imperadores romanos Diocleciano, Maximiano e Constantino), que no ano de 1100 era o santo mais poderoso do calendário da Igreja, rivalizando apenas com a Virgem Maria. Apesar de o autor ressaltar que sua origem histórica é incerta, após sua morte em 06 de dezembro de 343, várias histórias de milagres já haviam se espalhado pelo povo, sendo que duas são fundamentais na origem do Papai Noel.
Numa delas,quando jovem, evita que um pai entregue as filhas a prostituição e escravidão, atirando sacos de ouro pela janela do pai, durante três noites, tornando-o protetor das donzelas e casamentos profílicos.
Em uma segunda história, já velho, ressuscita três jovens que haviam sido mortos por um perverso estalajadeiro, que pusera seus restos esquartejados dentro de um barril, daí foi considerado protetor dos estudantes e crianças.
Com a sua popularidade na Holanda, no século XVII a veneração de São Nicolau atravessou o Atlântico, até Nova Amsterdã, a colônia que após invasão inglesa se tornou Nova York. Foi retratado em 1809 por um jovem escritor de Nova York chamado Washington Irving, que descreveu São Nicolau voando sobre a cidade num carroção e descendo por chaminés para entregar presentes. De acordo com o autor, que esse foi o momento que São Nicolau trocou a nacionalidade europeia para se tornar americano. (Será que os europeus aceitam isso?)
O autor comenta a primeira descrição do papai Noel como ficou mundialmente conhecido. Isso aconteceu na Harper´s no dia 26 de dezembro de 1857.
Apresenta-nos Thomas Nast (Landau, Alemanha, 27 de setembro de 1840 – Guayaquil, Equador, 07 de setembro de 1902), o responsável pela criação da imagem do Papai Noel conhecida até os dias de hoje (roupas vermelhas com detalhes em branco e cinto preto).
Descreve como os comerciantes tiveram a “sacada” dos primeiros cartões de natal e de usar o Papai Noel como “garoto propaganda”. Relata o primeiro poema de Natal escrito por Clement Clarke Moore (1779-1863) conhecido como "Twas the Night Before Christmas", e também um dos mais declamados (será isso que inspirou Tim Burton para "The Nightmare Before Christmas?)
Mostra em detalhes porque a Coca-Cola foi à empresa que melhor transformou o presenteador num consumidor de produtos com as famosas pinturas do Papai Noel feito por Haddon Sundblom nas campanhas natalinas da década de 30.
A partir daí foram anúncios de armas, bebidas, cigarros, seguros, revistas masculinas como a capa da revista Playboy brasileira de 2000. Até uma mistura de crenças em uma propaganda chamada “Feliz Natalhanukwanzakah” pela Virgin Mobile, o que não foi muito aceita.
Adentramos até o templo do consumismo, os shopping centers, e seus Papais Noéis, no altar como o “santo dos vendedores e das crianças em busca de uma novidade tecnológica como presente”. Porém, a partir desse ponto o autor vai cada vez “entrando de cabeça” na cultura americana, fazendo “paralelo” com a história dos EUA e do próprio Papai Noel, nas guerras, música, cinema, etc., o que torna o livro um pouco cansativo.
O livro traz a idéia do autor sobre o futuro do Papai Noel, onde os pais são os que vão decidir sobre a continuidade da tradição ou não. Eu particularmente acho que isso deva ocorrer como uma evolução natural da sociedade, com certeza a tradição não vai acabar, pode adaptar-se as novas gerações, mas não termina.
Amigos, depois de tanta influência americana, não poderia terminar esse post sem um "marco brasileiro" sobre o Papai Noel, o vídeo "Natal da Turma da Monica" que passava cerca de 4 vezes no mesmo dia pra criançada na década de 70.
Vale a pena lembrar também do CD "Um Natal Bem Brasileiro" lançado pela "biscoito fino" em 2008, com composições de Carlos Galhardo e Adoniran Barbosa.
Vou continuar a “curtir” o Natal com Papai Noel, rena, trenó, ceia, panettone, peru, árvore-de-natal, presépio, enfeites, presentes, cerveja, vinho, família, e não esquecer jamais do aniversariante, que nascendo em 25 de dezembro ou não, está todos os dias comigo ouvindo Rock´n´Roll e iluminado nossos caminhos durante o ano todo
Seguem abaixo, alguns vídeos sobre os temas acima.
Feliz Natal!
Anselmo
Aee Anselmo, caprichou!
ResponderExcluirBelíssimo texto. Tenho certeza que alguns dados que lemos no post, não eram de conhecimento de muitos. Fechou com chave de ouro a semana de Natal do Minerva Pop. Vamos deixá-lo até o dia 26, que merece.
Abraços e feliz Natal a todos nossos amigos que nos brindam com as visitas aqui no blog!
Sandro
Muito esclarecedor!!! Pena que a influência Franciscana, de se construir presépios que tenta reconstituir o nascimento de Cristo não é muito mais visto hoje em dia nas festas familiares, e muitos até se esquecem do verdadeiro sugnificado do Natal...pois infelizmente essa data é ligado ao comércio e crianças são estimuladas somente a consumir brinquedos..Essa época é mágica e com lindas decorações, porém não devemos esquecer que a essência é o festejo do nascimento Daquele que deu a Sua vida por nós!!
ResponderExcluirVamos agora nos preparar para 2010....e que venha dois mil e dez!!! Abraços!!